Senti-me criança da escola primária. Blusinha branca, saia azul plissada, sapatos pretos e meias brancas. Aquela malinha de lata com o mapa do Brasil e as características das suas regiões (mala onde vinham deliciosos biscoitos). Moringa de cerâmica na mão. E a imensa vontade de aprender e ser escritora.
Quantos de nós passamos por esses momentos? Quantos hoje, ao comer, beber ou até ver alguma coisa, voamos no tempo e revivemos coisas que pensávamos perdidas no fundo da memória?
Nossas casas tinham quintal. Alguns imensos como o da minha. Verdadeiros sítios onde tudo era plantado e colhido. Desde as lindas e coloridas flores que sempre enfeitaram nossa estrada, até as mais doces e tropicais frutas. Desde a cana de açúcar até o aipim delicioso. Até café! Nas árvores frondosas, uma corda sustentava um bastão e ali nos balançávamos e fazíamos estripulias. As hortas nos davam os temperos verdinhos, os tomates maduros, as alfaces mais lindas. Aquele cheiro delicioso do coentro verde impregnava, e ainda impregna as minhas narinas. Aguar tudo aquilo e mais as flores da minha mãe, era uma festa de final de tarde. Irmãos reunidos e brincando, carregavam baldes e bacias. Que alegria! Que saudade!
Se a menina da música tinha saudades do Sabiá que fugiu da gaiola, eu não tinha esse problema, pois nos mamoeiros, que eram muitos, dezenas deles vinham bicar a fruta madura e cantar lindamente todos os dias. E eram tão belos como os que hoje voejam no quintal da casa da minha irmã Oneide, lá em Ilhéus.
Nós andávamos descalços pelo quintal, embora minha mãe reclamasse. Descalços pelas ruas, pisando nas enxurradas das chuvas, brincando com a terra molhada, tomando respingos, sereno, bebendo água de torneira, tomando banho de mangueira, caindo e ralando o joelho... Descendo a Rua Dois de Julho de bicicleta de braços abertos. Ou de carro de caixão feito pelos meninos, inclusive meu irmão Fiim.
Nós crescemos livres. As portas das casas viviam abertas e o entra e sai era normal. Quebrávamos os coquinhos no meio fio usando pedras soltas da rua. Retirávamos a massa sem lavar as mãos e nos deliciávamos com a sua doçura e maciez. Chupávamos laranjas e mangas tiradas do pé. Também jabuticabas, umbus, goiabas, pitangas, araçás, gabirobas, mangabas, tangerinas, cagaitas, jambos...
Havia uma coleguinha que levava farofa para a escola... Solta na sua pasta de livros, junto com pontas de lápis etc. Comíamos até o último grão de farinha e nada nos acontecia. Celina se lembra disso, pois era a primeira da fila. Cair da bicicleta era normal. Sem capacete, sem joelheira... Subir em muros e árvores era o máximo!
Êta geração abençoada e protegida! Privilégio de uma época em que filhos obedeciam aos pais e os pais cuidavam dos filhos. De estudantes que levavam a escola a sério e de professores que ensinavam com amor.
Uma geração que não frequentava academias, mas que pulava corda no meio da rua. Jogava baleado e peteca. Das escolas que mantinham uma disciplina chamada Educação Física que era obrigatória. Praticava exercícios, corridas e jogos. Geração que cresceu temente a Deus, respeitando a família, as autoridades e a si mesma.
Eu sou desse tempo!
Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatsApp: 71 – 99503115 e 87247161. http:// facebook.com/luzmar.oliveira1
20/01
carlos henrique