• Caetité, pequenina e ilustre – Por Luzmar Oliveira

    14/04/2015 - 23:05


    CAETITÉ

    ...Dos jantares em família

     

    Eu nunca gostei de jantar. Mas meu pai adorava uma farofinha de carne rasgada (desfiada) ou com a sobra do frango do meio dia. E eu sempre “bicava” um pouco. Na verdade, fomos acostumados à sopa e ao café com “massa” à noite. Ah! “Com massa” quer dizer com pão com manteiga e outras coisinhas bastante sertanejas. A família se sentava ao redor da mesa para cear... Por nunca haver gostado de beber café, tomava o famoso Toddy.

     

    Onde perdemos esses costumes? Onde deixamos de ser juntos, unidos, companheiros? Na lida do dia a dia? Na pressa das escolas noturnas, do transporte atrasado, das novelas, do Face, do “zapzap”? No trabalhar fora?

     

    Uma mesa sempre agregou seus ocupantes. E ali residia um grande percentual da educação que os pais nos davam. Em algumas casas orava-se antes de comer. Mas em todas o costume era ter boas maneiras, lavar as mãos antes, só falar de coisas saudáveis e agradáveis. Uma cabeceira era do pai e a outra era da mãe. E os filhos se espalhavam pelas laterais. Não é que se ensinasse o uso corretíssimo dos talheres e do guardanapo. Não. Éramos um povo simples. Mas fazíamos questão da limpeza e educação. E a hora das refeições era sagrada!

    É claro que algumas mães tinham suas manias, seus costumes “sui generis”, como “comer de mão”. O que é isso? Isso é um costume da roça, muito gostoso por sinal. É dispensar o uso de talheres e fazer bolinhos de comida que são muitíssimo gostosos. Feijão, arroz, carne e farinha. Às vezes pimenta. Todos queriam experimentar. Hummm... E esse costume que veio lá das Senzalas, era realmente um manjar dos deuses. Sensacional. E não há quem, uma vez tendo provado, tenha se esquecido e não sinta saudades. Eu ouço tantos casos sobre... E quem nunca experimentou, não sabe o que perdeu. Minha mãe era mestra nisso, e eu mestra em participar.

     

    Naqueles momentos nós nos sentíamos mais coesos, mais amigos, mais família. Sabíamos que éramos importantes, pois participávamos de uma reunião onde havia laços, sentimentos, carinho. Dividíamos o pão. Dividíamos nossas histórias, nossos casos do dia. Tirávamos dúvidas e também repartíamos o que aprendemos nas aulas, no trabalho.

     

    Além das três refeições principais, também ocupávamos a mesa para o “café” das 10 e das 15 horas. Café com todas as “massas” que conhecíamos: pão com manteiga, requeijão, queijo, chiringas, chimangos, beijus, bolinhos fritos. Estes também eram sagrados! Magníficos.

     

    Havia ainda dias especiais. Naqueles em que nossa mãe fazia o famoso Requeijão Cozido, aquele amarelado. Ai o café tinha requeijão quente, raspa do tacho, “mentira”, coalhada... Êta festão!

     

    Mas o tempo passou, tudo mudou e ninguém mais se une em torno de nada... Hoje muitos se juntam em torno de uma mesa de bar, de um bate papo alegre, de momentos de descontração e alegria, de comemorações. A roda de conversa, a cerveja gelada, o descompromisso. Mas isso já é coisa de amigos. Família raramente está junta. É cada um pro seu lado, pro seu celular, pro seu WhatsApp, pra sua televisão. Mas ate na reunião de amigos ninguém se aparta do celular. E é “um tal” de apitar... De sinalizar novas mensagens... Daí cria-se os Grupos e os encontros passam a ser virtuais. E o ser humano caminha cada vez mais para a solidão.

     

    O jantar passou a ser um prato feito às pressas e devorado enquanto se vê a novela ou jornal. Ou um café tomado em pé frente a pia da cozinha, individualmente. Ou um sanduiche com suco ou refrigerante na cantina da escola/faculdade ou de um bar qualquer. O almoço é requentado no trabalho, ou uma quentinha ou num restaurante a quilo ou fast food  mais próximo.

     

    A minha vida era assim quando morava em minha terra, a doce e pequenina Caetité. Depois que vim embora tudo foi mudando, mudando... Daquela mesa onde se servia as refeições em grandes pratos, travessas ou tijelas, sopeiras, terrinas. Onde cada um, sentado, se servia e ali mesmo comia. Onde sabíamos todos o que cada um fez durante o dia... Daquela mesa restou a saudade, a lembrança, a vontade de uma reprise. Como o tempo muda as pessoas e seus costumes! Como o tempo modifica a nossa vida! E como o tempo traz lembranças e saudades para uma cronista que revira suas próprias memórias!

     

    Luzmar Oliveira – [email protected]  – WhatsApp: 71 – 99503115  e 87247161.

    http:// facebook.com/luzmar.oliveira1

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