Não sei o que os diferencia dos cantores de hoje. Talvez as melodias, os arranjos manuais, as letras mais simples e belas... ou mesmo a voz que é mais trabalhada e de uma beleza diferente. Só sei que eles eram os melhores. E o fato de ter presenciado essa história, me envaidece e alegra. Meu coração se emociona só ao pensar na importância de haver testemunhado esse tempo dos “gogós de ouro” da minha terra que hoje completa 205 anos de emancipação.
Não posso, não devo e nem quero negar que sou uma privilegiada. Naquele salão grande que era a copa do hotel dos meus pais, ouvia Lindo de Macaúbas, soltando sua voz cheia, entoando os últimos sucessos de Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Orlando Dias e outros mais. Era época do Samba-canção. Do bolero. Da valsa. Vilmar e Gilson, de Urandi, também participavam dos saraus improvisados. Inis e Oneide traziam doces melodias.
No salão da entrada, no bar, outro grupo sempre se reunia para tomar a famosa “Faixa Azul”. Eram rapazes da cidade. Alfio Lélis, Nengo, Pirrô e tantos outros. E a música rolava solta, encantando a menina que eu era, de extremo bom gosto musical.
Eu me sentia a mais rica de todas as crianças da redondeza! Era testemunha ocular da história de uma cidade! De uma juventude alegre e bonita. De pessoas que sabiam ser alegres e que amavam a verdadeira música!
Perdoem-me se não me lembro de todos os nomes, era muito pequena ainda. Mas daquelas maravilhosas canções... jamais me esqueci! Na sala havia um rádio transistorizado. E Oneide ouvia a rádio Nacional. E as notas musicais bailavam no ar, colorindo ainda mais o meu lindo mundo!
Como a verdadeira arte nos leva para longe de tudo! Como ela nos adoça e alegra a vida! Como ela é especial! E talvez a música seja a mais bela das artes.
Um dia Caetano escreveu: “E eu corri pro violão num lamento, /e a manhã nasceu azul, /como é bom poder tocar um instrumento...” E hoje escrevo eu que, a minha maior frustração, é ter vindo nesta reencarnação desentoada e não saber tocar um instrumento... Como amaria fazer as duas coisas... ou pelo menos uma delas. Mas ainda não é desta vez que vou realizar o sonho de integrar o elenco dos que encantam pela voz. Fica pra próxima.
Pois é minha Caetité, mulher de 210 anos. Minha cidade gloriosa. Linda. Progressista. Um dia foste apenas uma menina e eu, também menina, corri descalça pelas tuas ruas e teus cantores embalaram minhas horas. Dias e noites. Encheram minha vida de sonhos e de melodias saudáveis e lindas. Emprestaram aos meus ouvidos suas vozes perfeitas. Entoaram canções que se imortalizaram através do tempo. E escreveram seus nomes nas lembranças de quem viveu nas tuas plagas numa época de ouro.
Eu me rendo à tua história, minha cidade natal! E faço parte com orgulho da gente nobre que pariste ou adotaste. Dessas pessoas que tanto te amam e honram teu nome com dignidade e fé. Caetité dos Anísios, Césares, Tobias, Durvais, Joões, Dácios, Ovídios, Odulfos, Aristides, Helenas, Iranis, Lúcias, Celinas, Conceições, Vanis, Marias, Emilianas, Judiths...
Das vozes afinadas dos Waldiks, Tekas, Zezinhos, Zequinhas, Tártaros, Fariseus, Carcarás, Giripocas, Tremendonas, Ednas, Josenys, Anas e tantos e tantas...
Caetité dos poetas e cronistas. Do Dois de Julho e do São João. Da Lavagem da Esquina do Padre. Dos velhos e novos carnavais. Do povo que, nascido no teu seio, se espalhou pelo Brasil afora ou em ti ficou... e do povo que veio de fora para te fazer crescer. Caetité dos professores brilhantes, do melhor colégio do interior baiano... da educação e da cultura... Caetité do “já teve”... teve cinemas, teatro, mercado, observatório, fonte luminosa... Caetité que agora tem... tem progresso e progresso.
Tem uma linda praça! Uma Catedral magnífica. Um povo bonito! A ti, minha Vila Nova do Príncipe, a minha homenagem e o meu carinho.
Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatsApp: 71 – 99503115 e 87247161.
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20/01
carlos henrique