• Caetité, pequenina e ilustre – Por Luzmar Oliveira

    12/02/2015 - 06:00


    CAETITÉ

    Passeando no Mulungu

     

    A única entrada para a cidade passava pelo Mulungu e Rua Dois de Julho. No primeiro não havia calçamento, era cascalho ou barro. A outra era calçada com pedras irregulares, mais tarde com paralelepípedos.

     

    O Mulungu era uma espécie de “Bairro da Saudade”, pois por ali partiam nossos amores, nossos amigos e até nós mesmos. Também chegavam, ou chegávamos, para passar as férias. Como não havia rodoviária em Caetité, os ônibus paravam no Hotel de Zizi, ou seja, na “bomba”. E também porque era (e ainda é) caminho para a “última morada” de todos nós.

     

    Não existiam faculdades e nem escolas técnicas na região. Todos que queriam um diploma de nível profissionalizante ou superior debandavam para os grandes centros em busca dos seus sonhos. Era preciso crescer. Crescer e voltar para o lar doce lar. Mas nem sempre a volta acontecia. Novos rumos, novos sonhos, novos trabalhos, novos amores. E a “pequenina e ilustre” ficava para trás. As maravilhas da nossa meninice se perdiam na poeira daquele cascalho para, mais tarde, serem relembradas na saudade. E que saudade! 

    Mas o Mulungu estava ali. Abrigando postos de gasolina, circos e parques. O comercio se alastrava naquele triângulo. Os romeiros faziam o milagre dos moradores montarem barracas para laranjas, café, pão e bolo. E para a famosa aguardente de Santa Luzia. Durante o período das festas de Bom Jesus da Lapa, os jovens da cidade se divertiam em observar aqueles que compunham a Romaria. Homens, mulheres e crianças carregados de fé, para a Gruta se dirigiam em gratidão pelo milagre alcançado ou em busca de um novo. Os pagadores de promessas. Os “candangos” aboletados nos caminhões recobertos com lona a guisa de toldo, e sentados em tábuas que atravessavam as carrocerias de lado a lado.

     

    Havia o Hotel Globo de Zizi, o Hotel Bahia, outros... Casas de peças... Vendas... Um Grupo Escolar, um Posto de Saúde... Postos de gasolina... Oficinas... Residências.

     

    Na saída para Brumado, do lado direito, o Posto Sertanejo que também era casa de peças e restaurante com sorveteria. Ali moravam o Sr. Maurílio e dona Lindaura, meus amigos muito queridos, e seus filhos. Hum... Como tomei sorvete naquelas tardes! E que tardes tranqüilas ao lado de pessoas que sempre estarão na minha saudade! Na varanda do fundo, próximo à cozinha, uma mesa onde tomávamos o café da tarde. Ali eu me sentia em casa. Acolhida e querida. Doces lembranças!

     

    Separando o Mulungu da Dois de Julho havia uma pequena ponte, sob a qual passava um riacho. Em dias de chuva corríamos para ver a “enchente”! Provocada, principalmente, pelo desaguar das enxurradas. Era lindo!

     

    Por falar nas enxurradas, nada mais alegre do que fazer barquinhos de papel e deixá-los soltos naquelas águas barrentas! Haja folhas de cadernos velhos e revistas usadas! Que infância generosa e bela! A sua simplicidade é que a fez tão especial, tão relembrada.

     

    Mulungu? Mulungu é uma árvore do cerrado. Erytrina Mulungu, seu nome científico. Fabaceae-Papilionoideae é a sua família. Adulta, mede cerca de 10 a 14 metros de altura. Madeira leve, fácil de trabalhar com um simples canivete. Baixa durabilidade. Linda, é muito usada para paisagismo e também na recomposição vegetal de áreas degradadas. Suas belas flores atraem os papagaios, periquitos, beija-flores e outras aves. Também é medicinal. Enfim, mais uma prodigiosa obra bem acabada da nossa querida Mãe Natureza. Suas sementes vermelhas, além de utilizadas na farmacologia, se prestam ao artesanato, fazendo belos colares.

     

    E nas nossas mais ternas lembranças, o Mulungu ocupa um espaço fundamental, pois, como o autêntico “Bairro da Saudade”, faz desfilar em nossa memória fatos, causos, momentos que nos fascinaram e marcaram para sempre.

     

    Caetité é muito mais que a terra onde nascemos e vivemos as primeiras décadas da nossa atual romagem terrena. É vida, é história, é a prova de que o simples é que nos traz a felicidade. É motivo de orgulho, pois foi a maior referência de cultura e educação do interior baiano por mais de um século. Caetité é clima, é água gostosa, é amizade, é família, é amor! E Mulungu é a entrada e saída daqueles anos. É pegar o ônibus na Bomba... É saltar do ônibus na Bomba.

     

    Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatSapp: 71 – 9950-3115 – 8724-7161.

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